Saudosismo 01

A Igreja Católica patrocinou nos anos 70 um movimento de chamamento dos jovens que se propagou até meados dos anos 80, através de Encontros de Jovens e que no final tornaram-se as Comunidades Eclesiais de Base, que foram a base para a fundação do Partido dos Trabalhadores. Com princípios religiosos, esses encontros continham uma carga política muito forte e orientação dada diretamente pelo cardeal Arns. Tive a oportunidade de fazer meu primeiro Encontro de Jovens no início dos anos 80, numa comunidade que se chamava Santíssima Trindade, em Osasco/SP. O encontro acontecia num fim-de-semana, incluindo a sexta-feira à noite. Reunindo algo em torno de 200 jovens, num antigo seminário em Pirapora do Bom Jesus/SP, anexo à paróquia da cidade. Toda a estrutura do Encontro era fortemente emocional e significativa. Haviam várias palestras abordando temas como Liberdade, Fé e Política, Amizade, Valores das Coisas, João Batista, Pai e Mãe, Filme da Vida e demais. E por conta dessa carga emocional violenta, empregada com o intuito de mexer profundamente com cada dos jovens que estavam ali, haviam muitas lágrimas, sorrisos, encontros, e aquela vontade profunda de transformar o mundo. O desejo real de mudar a realidade que cada um de nós vivia, em casa e na vida cotidiana. Qual jovem não aspira isso? Claro que me engajei e participei de vários Encontros, já como palestrante de alguns desses temas. Logo fundamos novas comunidades na Capital/SP e em Bragança Paulista/SP. Esse foi um tempo em que a juventude queria dizer algo a mais do que havia pra nós.  Motivos reais e que nos levaram a participar do nascimento do Partido dos Trabalhadores. Razões verdadeiras, honestas e carregadas da esperança cidadã de cada um de nós. Acabara de entrar na faculdade, portanto estava indecentemente careca, mas com toda a força da minha poesia, latente e viva. Foi o tempo que mais produzi poesias, crônicas, ensaios. Tínhamos temas musicais significativos que “embalavam” cada palestra, pequenas lembranças feitas de papel e fitas, almoços e jantares todos em comunidade, onde todos se viam, todos riam, todos possuíam a felicidade latente da juventude, mas que a muitos não acompanhou. Lembro-me de todos com muito carinho, Sonia, Virgílio, Luiz, Álvaro, Hércules, Mário, Célia, Jadir, Neide, Sula, Joaquim, Norival, Carlinhos, Edelucia, Sirlene, Tito, meu parceiraço e, perdoem os que eu não mencionei, todos amigos e queridos, inclusive o padre Pedro, que nunca perdia a oportunidade de me “cerrar” um Carlton, quando não pegava o maço inteiro.

Pirapora

p.s.: Aproveito o tema e me penitencio. Sim, eu participei de vários comícios do PT. Aplaudi Lulla muitas vezes, chorávamos de emoção naqueles comícios, prevendo tudo o que era possível fazer neste país, por este povo tão sofrido e espoliado por coronéis de nordeste e empresários da fiesp. Mas confesso, perdi muito, muito daquilo que eu sempre acreditei, fruto do que o Partido dos Trabalhadores fez nesses treze anos de um governo comprometido com a manutenção do poder e do controle social. Negociatas, corrupção e uma ameaça real à democracia…absolutamente tudo contrário aquilo porque sempre acreditávamos estar lutando…

Deixe um comentário