Independência e Maçonaria, 200 anos de Brasil

Menos de três meses separam a Independência do Brasil e a formalização da maçonaria em seu solo pátrio. Mas não, não irei fazer desta uma redundante oportunidade para reviver fatos marcantes, figuras históricas e enredos de ambos. Sei que há historiadores com mais preparo documental, capazes de produzir análises, ficcionais ou meramente deontológicas, aos mitos de sempre. Prefiro arriscar-me em discorrer sobre o papel de cada uma dessas instituições para a felicidade do povo brasileiro. E, não há dúvida, uma atitude mais arriscada, exposta à críticas, mas sobretudo mais serventil.

Os aspectos práticos que envolvem Maçonaria e Independência precisam ser vistos antes pelo prisma histórico do mundo, para que razão alguma seja disposta ao lado ou diluída em conjecturas inexistentes. E insisto, mais uma vez, não desejo me interpor entre historiadores e compêndios sacramentados pelo aceito tácito da verdade. Mas nada, na magnitude dos fatos trazidos aqui, pode fugir absolutamente à memória da ética dos fatos, do fardo das razões e do questionamento das verdades travestidas.

É fato que o povo brasileiro não prima por enlevar-se com heróis nacionais, salvo algumas indistintas do universo esportivo. Talvez, por certo, a maioria de nossos vultos não fez questão de parecer merecedora dos louros e admiração nacionais. Também por isso não é incomum ver o Imperador D.Pedro I sendo taxado de libertino, por causa de contadas aventuras amorosas durante seu reinado. E, claro, isso não foi ou é privilégio dos escolhidos por descendência. Presidentes, grãos-mestres, generais, juízes, governadores, empresários e outras tantas figuras públicas, ao que parece, sempre fizeram questão de deixar atrás de si um rastro de comportamento em desalinho com o que representavam e representam.

E que fique bem claro que as circunstâncias também denotam o desleixo com as aparências. Ao menos fez com que, cada um dos brasileiros de menor expressão, nutrisse certo desdém com empoeirada elite. Essa que, ao contrário do que sempre teimou fazer, deveria inspirar a unidade do povo, atuar na construção de uma identidade nacional, respeitar personagens ilustres e os símbolos cultuados.

Portanto não é difícil assistir professores de história fazerem chacota, e mesmo distorcer fatos e razões, de algumas das pessoas que nos deveriam ser indiscutivelmente caras. Muito disso baseado em compêndios apócrifos de busca. E não vou aqui mencionar tais arroubos de incivilidade histórica, mas o fato é o que tanto personagens de vulto quanto seus menestréis inspiram em nosso povo.

E se nos debruçarmos na história do país veremos que o legado de tudo isso é exatamente o que experienciamos nos dias de hoje, um teatro de horrores institucionais. Uma completa falta de ética, um senso de justiça inexistente, uma política feita de valores subvertidos em decência e distante longinquamente do tão ansiado bem comum.

A Independência nos prometera a liberdade, e a proclamação alardeou a garantia da prosperidade. E em ambos fomos vítimas do mesmo engano. Desses panteões históricos fazem parte alguns dos que deveriam resguardar-se como vultos atemporais de nossa história, mas não é isso que vimos. Da Independência coube-nos uma volumosa dívida com a Inglaterra, além de uma descarga intestinal para completar o anedotário. Da Proclamação da República, sobeja a razão do militar chamado Deodoro e seu desafeto, Silveira Martins, enlevados pela Viúva Adelaide. Fato esse que logrou à data o epíteto de golpe, o que não se difere da realidade.

Por sua vez, a Maçonaria tentava ocupar um lugar de destaque com seus partícipes, que andavam com pés em ambas as canoas. Muitos ilustres personagens envergavam patentes e graus, por isso a Maçonaria sempre se fez presente, por mérito das raízes filosóficas e seus ideais. Mas ao que parece algumas disputas dentro da Ordem fizeram vítimas de reputações públicas. Mas aqui vale dizer que a Maçonaria sempre tratou seus membros com mais sobriedade que outras instituições. Não por isso também negou-se ao fato de possuir fantoches de razões e pantomimas da ética.

Mas claro que o histórico maçônico trazia consigo, em minha análise, mais honradez que qualquer patente militar que tenha se ostentado durante nossa longa jornada nas vicissitudes do engano pátrio. Grandes homens ostentaram o caráter maçônico, bem como o puseram à frente dos conflitos em que se envolveram pela pátria Brasil. E em quase que todas as ocasiões em que se fazia necessária a influência mister da Maçonaria, fosse em conflitos pátrios ou pessoais, lá estava ela com sua coragem, destemor e caráter.

E não foram poucos os instantes em que foi necessária uma intervenção ética e moral dos maçons na sociedade em que praticavam a regra máxima da razão pela liberdade. Por isso os integralistas e católicos puseram-se ao embate conosco durante o governo espúrio do sanguinário Getúlio Vargas, que nos via como inimigos de sua ditadura e de seus compadres, os militares. Então talvez não seja uma análise tão frívola dizer que a Maçonaria se distanciou da cartilha dos militares nacionais ao longo de décadas, já que os ideais maçônicos de honra e liberdade foram confundidos e usados pelos militares segundo sua doutrina de intervenção e poder.

Mas nem tudo o que é bom permanece para sempre. O declínio da Maçonaria, imposto por divisões internas de poder, entrou em choque com seus ideais, e uma pretensa junção institucional voltou a tomar fôlego no final dos anos 60. Juntos num processo de contra-revolução ao perigo comunista, militares e maçons tornaram a ombrear-se pela pátria, num período de conturbada paz social. E não sei se por acaso ou mesmo infiltrada pela ganância do poder, a Maçonaria experimentaria um de seus piores momentos históricos vividos até hoje. Cisões, disputas, eufemismos de suas raízes, distinções entre irmãos e potências. Tudo isso levou-nos a um papel social coadjuvante de ideais, virtudes e moral.

E não foi à toa que o silêncio institucional abalou as colunas da Maçonaria no Brasil, em pleno século XXI. Diante de fatos maçantes ao país e à sociedade, a Maçonaria calou-se, fez de conta que não era consigo todas as barbaridades institucionais que vimos ocorrer. E parte disso vindo de membros de sua própria gênese. Pudemos ver um gritante silêncio advindo das Lojas da Ordem, enquanto absurdos jurídicos, políticos e criminais reinavam incólumes na sociedade brasileira.

Parecia que aquele papel distinto de discussão e ação em prol do Brasil havia se esgotado na história. Enxergávamos membros afásicos de sua responsabilidade com a sociedade e a pátria serem tratados como meros assuntos de prosa vazia. Não como sempre fora, membros ativos, dispostos a enfrentar de peito aberto as batalhas, mas somente murmúrios de um inconformismo dormente. Nem mesmo as ilegalidades tomadas a feito por um membro sem escrúpulos do STF/TSE puseram coragem em nossa dividida ordem. Mesmo que no centro da celeuma houvesse um maçom na vice-presidência da República.

Assistimos pasmos a um condenado ser devolvido à vida pública e tornar-se novamente o líder máximo do país, como se nada houvera de discórdia quanto ao fato. E conexo, uma instituição que deveria zelar pela lisura ser carreada para dentro do fosso da iniquidade eleitoral. E não de longe, os mesmos militares que sempre primaram pelo poder a qualquer custo, curvarem-se diante de tais ocasiões ilegais. E todos, sem assumir o mérito de suas responsabilidades, ouvirem o dito: “Perdeu Mané”. Mudos, Maçonaria e Militares, juntos em sua despropositada frouxeza.

E o pior que tudo, ver maçons defensores tormentosos de uma situação institucional que beira o crime e a desgraça. Defendendo um governo eleito de forma fraudulenta, formado por criminosos condenados e que conduzirão o país às profundezas da falência da imoralidade, da destruição familiar, nos destituindo de liberdade e voz. Sem que isso tenha sido discutido em Loja, como sempre o foi, onde os rumos pátrios eram ideais comuns e razões. Sem que nenhuma Potência, legítima ou liturgicamente espúria, tenha se posicionado à frente de seus membros e nos colocado em forma para a luta.

Eis-nos aqui, agora, contemplando os 200 anos de Maçonaria e Independência, rogando ao GADU que nos socorra de nossos próprios desenganos. Vendo a luz da Chama Sagrada ser soprada pela inércia da iniquidade maçônica, em pé, mas sem qualquer resquício de Ordem, devotos de uma maçonaria progressista e escura.

Carlos Alberto Joaquim Baltazar

Uma resposta em “Independência e Maçonaria, 200 anos de Brasil

  1. Mais uma vez o Amado Irmão vai no ponto central do alvo.

    Há alguns dias me indaguei onde estavam os Maçons que procuram se justo? Como poderiam testemunhar tantas ações não corretas, como destacadas pelo Irmão, e ficarem quietos, inertes?

    Será que se corromperam pelo sistema ou se amendontraram com a situação?

    Aliás, essa pergunta pode ser levada aos Almirantes, Brigadeiros e Generais. Será que estes, que juraram defender a Pátria, conseguem colocar deitar em sua cama -ou seria em berço esplêndido? – e terem o sono dos justos?

    TFA!

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