“O Sistema é Foda Parceiro” (*)

comunidades-locais-de-ti-5-638

O Brasil, sem dúvida, é um país atípico na definição sobre o que é e pra que serve a política. Não há dúvida de que o aperfeiçoamento da prática política já é difícil em países compostos de uma sociedade consciente como Nação, imagina para nós, que mal conseguimos nos manter unidos em um mesmo território? Os políticos nacionais são o que de pior possuímos em termos de substrato social. Suas folhas corridas chegam a dar inveja a criminosos famosos, e sua cara-de-pau deixaria ruborizados os melhores atores do cinema nacional, sem contar sua prática distorcida entre ação e finalidade. Dos projetos mais inadequados que vimos tramitando na Câmara e no Senado, ou são projetos populistas em conceito e narrativa, mas falhos em resultados, ou puramente assistenciais e vergonhosamente oportunistas.

Temos eleito o pior que nossa raça produz em termos de pessoas e lideranças. E isso decorre porque estamos ainda atados a qualidades que nada tem a ver com o melhor da ação política em si. Daí elegermos atores, cantores, palhaços, fazendeiros, donos de shopping, traficantes, pastores, intelectuais, e outros de melhor quilate, que desconhecem as necessidades do país e como se dá o jogo político numa câmara de representantes. Alguns chegam para tentar realmente fazer algo, mas são engolidos pelo Sistema, outros são imediatamente engolidos e gostam do que recebem em troca. Entram falidos e saem sorrindo. E o tecido político adora essas figuras, porque eles nada sabem, e são manipulados para o melhor do Sistema, para que esse funcione sem muitos escândalos e fazendo de conta que tudo está como deveria estar.

Mas não é bem assim. A política, em toda a sua abrangência, lida com a mais rasa camada social e que se adapta perfeitamente com o pior substrato social em atividade na vida pública. Não, essa visão não é pessimista, mas realista. Basta ver que temos um ex-presidente condenado por vários crimes de corrupção, outro já preso, e outros em vias de, fora os que se safaram. E eu falo da autoridade máxima do país, não contando os diversos governadores presos, prefeitos aos montes, deputados, senadores, vereadores, enfim, todo o espectro público, nas pequenas e grandes esferas de poder, todos envolvidos em crimes de corrupção, peculato, formação de quadrilha, organização criminosa e outros artigos igualmente famosos no código penal brasileiro.

Mas afinal por que continuamos a insistir em eleger esses mesmos brasileiros sem valor ao invés de dar chance para outros que realmente se importam conosco? Alegar que não há escolha não é desculpa, muito menos dizer que o poder econômico é o responsável por tamanha deformidade representativa. Até mesmo o crime organizado elege seus representantes, e pior, são abrigados em partidos como se esses fossem companheiros da mesma luta. Boa parcela dos partidos políticos abriga em suas fileiras representantes das piores doenças sociais que possuímos, deixando de lado seu protagonismo necessário à construção de uma sociedade melhor, para tornar-se um cartório oficial da corrupção e manejo distorcido da burocracia do país.

Fica claro que num sistema democrático a maioria votante elege suas razões sobre a outra parcela, mas vimos insistido no mesmo erro há décadas, e não creio termos para breve uma prática diferente desta, porque o sistema político possui meios para se defender das armadilhas que a liberdade do voto proporciona. Basta ver que, salvo uns predestinados, a maioria se elege independentemente da plataforma vencedora, ou seja, não importa quem será o chefe do Executivo, no Congresso serão quase sempre os mesmos a apoiá-lo. Como é possível isso, se as práticas visionárias de gestão são tão diversas e as ideologias tão díspares? Resposta direta: interesses, cargos, dinheiro.

matheus_santos_o_grande_cancer_do_sistema_politico_bras_lljm3pe

E é fácil confirmar essa tese. É só ver o novo presidente, que se nega a dar cargos e dinheiro para o Congresso, e ver as manchetes estampadas em todos os jornais a retaliação que sofre por isso. E não dá para dizer que isso faz parte do jogo político porque essa não é a prática comum a que deveríamos nos ater. Mas a elite política possui suas próprias regras e armas e o sistema escolhido é o de coalização, o que sugere divisão e partição do poder. Mas afinal quando iremos sentir os efeitos benéficos da política em nossas vidas? Ao que tudo indica, não tão breve, porque vem aí uma geração alienada da política de verdade, que tem apenas reverenciado sonhos utópicos e lamentos de razão, mas muito distante do que precisamos ter como representação politica de verdade.

(*) Capitão Nascimento, personagem do filme Tropa de Elite.